
Obra evidencia violência urbana e desigualdade social, principalmente em relação às mulheres negras
Fonte: https://blog.estantevirtual.com.br/2018/05/30/resenha-a-sensibilidade-de-conceicao-evaristo-em-olhos-dagua/
Desigualdade social é um tema comum na literatura brasileira, mas na maioria das vezes o assunto é retratado sob a ótica de homens, principalmente brancos. Em busca de maior representatividade no mercado literário, mulheres têm conquistado mais espaço nas livrarias e ganhado mais voz nas histórias. Uma das autoras que quebram esse padrão na literatura é Conceição Evaristo. Em Olhos d’água, lançado em 2014, a escritora reúne 15 contos que evidenciam a violência urbana que atinge negras. Nas histórias, a autora expõe o cotidiano de mulheres que sofrem com a miséria e a exclusão social.
Com apenas 116 páginas, a obra é arrebatadora e comovente. O conto que dá o título ao livro relata o sofrimento de uma mãe negra e pobre, que fazia sacrifícios para cuidar dos filhos. Narrado por uma das sete filhas dessa mulher, o texto cria uma empatia entre o leitor e as personagens. A menina relembra histórias da infância da própria mãe, mas admite que as lembranças se confundem com suas próprias vivências. A grande questão de sua filha era: “qual a cor dos olhos de minha mãe?”. Conceição Evaristo reforça que a desigualdade social é um problema latente no país e que acaba sendo herdado pelas gerações futuras.

Já o texto “Maria” conta a história de uma empregada doméstica que entra em um ônibus na volta do trabalho, se depara com assaltantes e se assusta ao ver que um deles é o ex-marido, pai de seu filho mais velho. A narrativa mescla pensamentos, sentimentos e diálogos entre a personagem e o homem. No meio da ação dos bandidos, eles conversam sobre o filho, a vida que dividiam no passado e ela demonstra que sente saudade do amor daquele ex-companheiro.
Maria é a única que não é roubada pelo grupo e, por isso, quando os bandidos fogem, os passageiros desconfiam dela. Eles a agridem e a acusam de criminosa, mesmo sem provas de que a mulher teria algum tipo de relação com o ato criminoso. A história da empregada doméstica nada mais é do que um paralelo com a nossa sociedade atual, que marginaliza e pré-julga as pessoas que não se encaixam nos padrões financeiros, estéticos e culturais.

Outro texto que se destaca na coletânea é o “Lumbiá”, o qual conta a história de uma criança pobre que se encanta com a imagem do Menino Jesus em uma loja. O menino se identifica com a aparência de Jesus. Por não ter condições de comprar o objeto, ele rouba do estabelecimento. Mas depois tem um fim trágico. Assim como nos outros contos, Conceição evidencia a pobreza e a desigualdade social presente no país.

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Dissertação de Mestrado
OLHOS D´ÁGUA DE CONCEIÇÃO EVARISTO : A VOZ DA MUULHER NEGRA NA CORDA BAMBA DA TRADUÇÃO - Dissertação de Mestrado de Alessandra Salamin em Língua e Literatura estrangeira do Curso LLEAP (Lingue e letterature europee, americane e postcoloniali) da Universidade Ca’ Foscari de Veneza e ao Curso de Letras da Universidade Federal do Espírito Santo como requisito para a obtenção do Título de Mestre em Língua e Literatura Portuguesa.
O propósito desse trabalho é analisar e traduzir para italiano o livro da autora afro-brasileira Conceição Evaristo: Olhos d’água. Esse livro é uma coletânea de contos cujas personagens e ambientação refletem a parte mais marginalizada da sociedade no Brasil atual. Para analisar essa coletânea, é preciso olhar para as temáticas recorrentes nos trabalhos da autora. Conceição Evaristo utiliza o termo “escrevivência” para unir em uma única palavra todas as temáticas que recorrem em suas obras. Partindo dessa análise evidenciam-se, como assuntos mais frequentes, a comparação entre a vida e a morte, a condição de vida das pessoas marginalizadas, a vida das mulheres afro-brasileiras que tentam sobreviver em uma sociedade profundamente racista, a importância e a representação dos corpos delas tanto no universo cultural brasileiro quanto na literatura e o intento de elas buscar a representação da própria identidade nesse tipo de cultura. Nesses contos a maioria das protagonistas são mulheres que, junto com os protagonistas masculinos e os outros personagens, vivem em favelas em condições de marginalização.
A INTERSECCIONALIDADE NOS CONTOS DE OLHOS D’ÁGUA, DE CONCEIÇÃO EVARISTO - Dissertação de Mestrado de Jocelane Fernandes Cruz Dissertação apresentada à Universidade Vale do Rio Verde (UNINCOR), como parte das exigências do Programa de Mestrado em Letras, para obtenção do título de Mestre em Letras.
RESUMO : Olhos d'água é um livro de contos vencedor do prêmio Jabuti, em 2015, escrito por Conceição Evaristo. Nesse romance, a autora apresenta, através dos seus contos, como se dá a vida de um grupo subjugado socialmente através do gênero, raça/etnia e classe. O objetivo principal desse trabalho é refletir como os três nós de exclusão social: gênero, raça/etnia e classe social se interseccionam na construção do sujeito feminino presente nos contos de Olhos d´água, de Conceição Evaristo. A própria Conceição Evaristo, mulher, negra, nasceu em uma favela em Belo Horizonte. Sua escrita está ligada ao grupo de que faz parte e ela se torna uma articuladora de todas essas vozes, acerca das violências sofridas por essas pessoas, tanto no passado como no presente. Como a obra escolhida é composta por 15 contos, com um vasto elenco de personagens femininas, nesse estudo, nos detemos a analisar quatro contos em que as personagens apresentam os três nós (gênero, raça/etnia e classe). Esses contos são os seguintes: ―Maria‖, ―Quantos filhos Natalina teve?‖, ―Olhos d'água‖ e ―Ana Davenga‖. Revelamos o quanto esses nós dificultam a vida dessas personagens que serão vítimas de alguma forma de violência. Estes textos permitem conhecer a realidade socioeconômica vivenciada por mulheres pobres e negras, características que as relegam à margem de uma sociedade que se pretende "democrática", porém, através das ações e palavras, exclui os seres subalternizados. Conceição Evaristo, a partir da escrevivência, reivindica respeito e igualdade por questões étnicas, por pobreza, no caso das mulheres, de gênero, uma vez que a inserção em uma sociedade patriarcal, sexista, dividida em classe social e racista impõe sofrimento potencializado ao ser.
AS VIDAS SUSCETÍVEIS EM CONTOS DE OLHOS D´ÁGUA, DE CONCEIÇÃO EVARISTO - Dissertação de Mestrado de João Marcus Soares Campelo - Dissertação apresentada à Universidade Federal da Paraíba, como parte das exigências do Programa de Pós-graduação em Letras, para a obtenção do título de mestre. Área de concentração: Literatura e Cultura Linha de Pesquisa: Estudos Culturais e de Gênero Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ana Cristina Marinho Lúcio.
RESUMO : A pesquisa em questão pretende tecer análise de alguns contos presentes no livro Olhos d´água, de autoria da escritora mineira Conceição Evaristo, publicado no ano de 2015. Os contos, a saber, são os seguintes: Duzu - Querença; A gente combinamos de não morrer; Ayoluwa, a alegria do povo. Pretendemos investigar, além das especificidades referentes a cada conto, um eixo temático comum que percorre as narrativas escolhidas, a vida precária dos personagens, as condições sociais adversas, mas, sobretudo, a suscetibilidade para transformar suas realidades, a possibilidade de modificação, de “inventar sobrevivências”.